Parece que a palavra da moda hoje é a “redução de custo a qualquer preço”, esse trocadilho me faz pensar que, talvez, o preço pago por certas medidas acabe sendo um custo muito alto ao longo do tempo. Para exemplificar essa visão, coloco aqui uma situação vivida por uma amiga numa grande empresa, cuja estrutura abriga milhares de funcionários e diversas filiais. Há menos de um mês ocorreu a troca de comando de CEO; não tardou, uma semana sequer, para começaram os cortes de funcionários, programas, fechamento de departamentos inteiros entre outras coisas. Quando escuto historias desse tipo, logo imagino: como pode um recém-chegado ter o real conhecimento da empresa a fim de efetuar as devidas mudanças? Seria o caso de acreditar que esse executivo fosse dotado de um extraordinário dom de clarividência? Seria lúcido imaginar que ele tenha recebido um estudo antecipado respeito do que fazer? Perguntas e mais perguntas! Quando se ingressa em uma nova empresa ficamos meses e meses até conhecê-la, quando não, podemos levar até anos para fazê-lo. Volto à pergunta: como esse “ser privilegiado” consegue? Não consegue essa é a questão.
 
A troca de CEOs nas empresas normalmente se dá em virtude de que os números (resultados) não estão agradando o Board (comando). Isso no meu entender cria uma obrigação velada de sobrevivência, ou seja, quem entrar terá que mostrar que sua contratação valeu o esforço. Esse CEO sabe que seu tempo de vida dependerá exclusivamente da rapidez. Por isso a formula é sempre a mesma, “cortar custos”. Olha-se o balancete e ai começam as ações. Obviamente em curto espaço de tempo o novo balancete vai refletir a nova administração. Dessa forma, o CEO ganhará um tempo a fim de poder trabalhar, de verdade, em outras palavras, ele vai fazer como outro funcionário qualquer que é conhecer a empresa a fundo e com isso e baseado em suas experiências adotar medidas que possam dar condições de gerar os resultados que todos almejam. 
 
A sequência dessa saga é a seguinte: quem chega não conhece os problemas a fundo, então foca as contas, que são visíveis, mexe no que pode enxergar. Se o administrador anterior era perdulário, funciona. Se o problema não era este, ele economizou. Se a economia feita trouxer problemas, ele corrige. Se não conseguir corrigir, será trocado por outro.
 
E os traumas?
 
Essa amiga quando foi contratada lhe venderam um belo discurso sobre as premissas, valores, rumos e objetivos da empresa, tudo veio embalado no mais perfeito papel “cor de rosa”; seu sonho de trabalhar num lugar assim, há muito perseguido, se tornara realidade. E agora? Agora a vida ficou amarga, pessoas se entreolham nos corredores buscando notícias sobre o que está acontecendo; a cada demissão aumenta o pânico, fazendo nascer a desconfiança em relação ao futuro. A dor e a desilusão semeiam os departamentos. O ritmo dos trabalhos e empenho diminui, todos ficam na defensiva. Aqueles discursos sobre liderança, meritocracia, espirito de equipe e tantos outros se tornam vazios. Onde foi parar o horizonte?
 
Esse trauma tem um preço e o custo, ele nunca é medido, mas com certeza é grande. Como ele é grande se nunca foi medido? Se pararmos para pensar somente no fator tempo, podemos presumir que entre o fato (mudança do CEO) versos tempo de nova estabilidade decorrerá um longo caminho, será nesse caminhar que as empresas começam a perder suas riquezas humanas. Pessoas terão suas posições mudadas, seja por nova alocação de funções, seja por mudança de visão de trabalho, seja pelo que for; as injustiças irão acontecer. Pessoas tidas como importantes e capazes perderão seus empregos, fazendo aumentar em muito a desconfiança de que tudo isso não faz o menor sentido. O desgaste físico e mental é tido como certo; por isso “novas doenças” têm e continuarão a aparecer. Por fim, todos aqueles que sobrevivem à mudança nunca mais verão a empresa com os mesmos olhos. 
 
As mudanças de modo geral trazem em seu bojo algum trauma. Elas criam essa condição uma vez que mexem com situações de comodismo. As mudanças exigem sempre uma nova adaptação que traz consigo um novo problema que exigirá uma solução que vai gerar uma nova mudança e também uma maior cobrança de resultados. Cria-se assim um circulo vicioso. O mundo globalizado se tornou uma armadilha. Vivemos, hoje, inseridos na caixa de B.F. Skinner (condicionamento operante), a caixa de hoje é construída com tecnologia, globalização a internet entre outros. A tecnologia que tinha como propósito facilitar a vida das pessoas acabou por escravizá-las, como a mudança é constate fica difícil acompanhá-las o que acarreta enorme ansiedade. A globalização canibaliza setores inteiros; a concorrência, outrora feroz, hoje carece de adjetivos. A Internet, e outros meios de comunicação inundam nossa mente a tal ponto que a cada dia fica mais difícil atribuir valores a informação, sua banalização e consequente uso ficam dispersos.
 
Mas elas necessariamente, não são ruins, existem mudanças que trazem grandes benefícios. O que muda de uma situação para outra é a forma de fazer. O ser humano não é uma máquina que pode ser mudada apertando-se teclas ou fazendo reinicialização, da mesma forma como é feita nos computadores. As mudanças serão aceitas na medida das necessidades e do sentido. As pessoas precisam entender o porquê das coisas e precisam de tempo para isso, se forçadas ao contrário, acabarão destruídas. 
 
Alguém se importa?

Nenhum comentário:

Postar um comentário