Oh! Meu Deus, que horror! Exclamarão as pessoas, em sua maioria, ao ouvirem a palavra (o vocábulo) que dá título a este artigo. Deus me livre! Dirão alguns se forem informados que fizeram uma macumba pra eles. As palavras tem força. Que força? As que damos a elas. A palavra pode ser simplesmente uma palavra ou um vocábulo, um termo, uma expressão. Palavra tem significado, vocábulo e termo, não. São formas. Mas terão significado se forem utilizados como sinônimos de uma palavra ou de uma expressão. Intelectuais e poetas gostam de brincar com isto. O significado, a vida da palavra, depende de contextos, de circunstâncias. Se voltássemos ao passado, numa reunião de jongos ou cumba (mulatos e caboclos que se reuniam para tocar e dançar), ela seria chamada de macumba. Cumba significando o jongueiro e o prefixo ma fazendo o plural do termo. Vários cumbas igual à macumba. Antes de prosseguir, devo informar que não sou linguista, apenas metido. Considerem e desculpem.
 
Domingo, meu sobrinho contou que viajou pela Europa servindo-se dos albergues para estudantes. Falávamos sobre a discriminação aos latinos. Alguém comentou que na Itália éramos bem recebidos e ele disse que precisou mostrar o passaporte italiano (ele é neto) para não ser hostilizado também pelos italianos. Latino tem hoje um significado pejorativo. Até os anos cinquenta o termo LATINO era utilizado para se referir ao francês, ao italiano, ao espanhol e ao português. Era bonito. No século XIX, quando o francês dominava a cena e o português tinha prestígio, a expressão corrente era referir-se à nossa língua como a última flor do Lácio, região onde nasceu a latim, mãe de todas as línguas latinas, falada por Cícero e notáveis heróis romanos.  
 
As histórias são diferentes, mas os processos que tornaram a palavra LATINO e a palavra MACUMBA feias são semelhantes e o preconceito é o ingrediente principal da pusilânime receita. Nós latinos somos vitimas do preconceito dos europeus e norte-americanos. Os macumbeiros foram vitimas dos senhores de engenho, dos católicos e da elite brasileira, incluso os caboclos e os mulatos ricos. Felizmente nós latinos somos desqualificados e rejeitados, mas não somos presos. Os caboclos que dançavam o precursor do samba (ritmos raízes do samba) e faziam oferendas a seus santos eram considerados criminosos. Abrão é glorificado por atender o pedido de Jeová, o seu Deus, e de não hesitar em matar Isaque, o seu próprio filho. Seu ato é um testemunho de fé, da mais absoluta confiança em seu Deus. Os judeus ofereciam animais em sacrifício (ainda sacrificam) porque eram pastores e os animais eram valiosos. Mas nada, nenhum bem poderia ser mais valioso que a oferenda de um filho. Que fé! Que força é dada à palavra sacrifício no caso de Abraão. Os caboclos tinham pouco, ofereciam galinhas. Às vezes, um cabrito, e eram perseguidos, pois ninguém entendia a fé deles. Não havia interesse em entender. O domínio era católico. Abraão, herói. Caboclo, macumbeiro e criminoso. Não demorou e os caboclos e mulatos desistiram de serem macumbeiros. Não havia honra alguma nisto. Pelo contrário. Então a macumba foi assumida como coisa feia, feitiço, mal feito. Não demorará muito e nós latinos também não nos qualificaremos como tais. O que seremos?

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