Quem é que nunca passou por um “serviçal” e sequer “reparou” na sua existência?
Conheço um empresário que nunca soube o nome da copeira “anônima” que lhe servia o cafezinho diariamente no escritório, até o dia que ela morreu e o café atrasou.


Sei que como ele existe centenas, talvez milhares de executivos “importantes” e “ocupados” que não sabem sequer o sexo do (a) ascensorista que os cumprimenta todos os dias quando chegam ou saem de seus elegantes escritórios.

Estes “seres anônimos” são pessoas que se levantam de madrugada e correm para o trabalho. Muitos chegam antes de todos para preparar o dia dos outros funcionários. Podem ter filhos ou esposas doentes em casa e não se queixarem com medo de uma resposta ríspida. Pode ser um jovem contínuo, batalhador e dedicado, que vê o pai bêbado agredir sua mãe e luta pela sobrevivência da família sonhando com dias melhores. Pode ser o porteiro, o faxineiro, o jardineiro e outros “invisíveis” pelos quais passamos todos os dias e não percebemos, pois não nos importamos com eles nem com os problemas que carregam.

O que muitos não sabem é que, muitas vezes servimos-lhes de exemplos ou modelos de conduta, somos alvos de sua admiração.

Obviamente, a esta altura da leitura, muitos perguntarão se não seria desejável que as empresas fossem organizações de bem estar, que, também, além dos objetivos comerciais, incluíssem as necessidades de seus colaboradores? Está posta aqui uma questão!

As empresas não são compostas por paredes, maquinas e processos, mas por seres humanos. Principalmente estes. As pessoas têm seus sonhos, valores, verdades, diferentes visões das coisas. No meu entendimento, as direções das empresas não cultivam as relações, são preconceituosas, são restritas, e perdem uma considerável riqueza de competências humanas. Competências que somente são alcançadas e reunidas quando as pessoas se conhecem e são envolvidas. Porque isto acontece? Acho que por conta do egoísmo, pois nós formamos relações a partir de simpatias ou de interesses. Não olhamos para as pessoas, para conhecê-las e encontrá-las. Transformamos as empresas em “guetos”. E você leitor, o que acha? Já analisou o seu lugar de trabalho para avaliar o que eu constatei e acabo de afirmar?

As pessoas podem e tem o direito de escolher suas companhias, o que coloco nesse caso é que esse convívio prolongado acaba por criar nesse grupo uma mesma mentalidade, os pensamentos e ações com o tempo se alinham e penso que todos perdem. A pluralidade quando não exercida empobrece a análise das questões. Certa vez um amigo me disse: pessoas brilhantes ficam tão focadas no que acreditam e se tornam incapazes de ver o brilhantismo de outras pessoas. Extrapolando essa ideia podemos imaginar que os guetos formados dentro das empresas se encastelam em suas verdades e acabam por não ampliar sua visão para outros prismas.

Em dezembro participei de uma festa à fantasia organizada por uma determinada empresa para comemorar o final de ano, o que é comum nesta época. Durante a festa, percebi a formação dos grupos. As pessoas se movimentaram de um lado pro outro, mas acabaram no mesmo grupo. Em dado momento, apontei para uma pessoa cuja fantasia havia me chamado a atenção e perguntei a um dos diretores quem era aquela pessoa? Sua resposta: não sei quem é. Repeti a pergunta apontando para mais três pessoas e ele somente identificou uma delas. Fiz esse teste com outros dois diretores e obtive um mesmo resultado. Conclui que estava numa festa de anônimos.

É óbvio que ninguém defende a obrigatoriedade dos executivos conhecerem um a um todos os funcionários. Numa empresa com milhares deles isto é impossível. Por outro lado, eu me pergunto: se o fator humano é primordial, como se afirma que é, na condução e sobrevivência dos negócios, como se abster de tal tarefa? Por lógica, a departamentalização existe para isto: cada diretor, gerente ou chefe deve conhecer a estrutura e seus colaboradores, de onde se pode concluir que a direção terá pleno conhecimento das potencialidades e qualidades de seus subordinados. Será verdade? Não acredito. Os “guetos” revelam o contrário.

Infelizmente, esta é a nossa realidade: estamos ilhados devido ao nosso egoísmo, nossos preconceitos. Somos todos anônimos de algum modo! Penso que teríamos nossos “fardos” aliviados se pelo menos fornecêssemos e recebêssemos gentilezas simples, tais como: um cumprimento “real”, uma conversa, mesmo breve, porém amigável com as pessoas que trabalham conosco.

Texto para mera reflexão, as verdades são apenas pontos de vista passageiros. Agradeço a colaboração de meus eternos amigos Daniel S. de Macedo e Carlos Felipe.

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