A maioria das pessoas acredita que sim, tanto é que subestimamos “as coisas” ruins que podem nos alcançar. Dificilmente você encontrará uma pessoa que afirme que será acometida de um câncer ou que perderá o emprego num futuro próximo. Essa condição de otimismo atinge a todos de alguma forma. Analisando o casamento, por exemplo, veremos que o número de divórcios situa-se na casa dos 50%, porem se entrevistarmos alguém que está para casar, ele lhe dirá que no caso dele isso não irá acontecer. Pergunte a um pai como ele vê o futuro do filho. Pode ter certeza que ele dirá que seu filho terá um futuro muito bom!  Vocês já notaram que sempre acreditamos que somente os outros serão infelizes, perderão seus empregos, sofrerão doenças, serão atropelados e assim por diante. Essa situação é a completa negação da realidade.

Se analisarmos uma entrevista de emprego onde é perguntado ao entrevistado, fale de si mesmo, o que vocês acham que irá acontecer? Com certeza após a narrativa será revelado um novo “super-homem”. Alguns dirão: obviamente ele por estar disputando uma vaga não poderá falar contra si. Isso é uma verdade, todavia pegue essa mesma pessoa fora desse ambiente e refaça a mesma pergunta, pode acreditar, terá a mesma resposta. Faça o seguinte teste: pare um motorista no transito e pergunte-lhe se ele dirige bem. A maioria lhe responderá que sim. Então porque existem tantos acidentes uma vez que todos dirigem bem?

O otimismo é um sentimento interno nutrido de modo a gerar uma crença positiva em relação a tudo que nos cerca. Esse processo vislumbra transformar adversidades em possibilidades de modo que no fim a felicidade possa ser conquistada. Se pegarmos o exemplo do casamento veremos que o compromisso de “felicidade” é compartilhado por ambas as partes, idealizam-se toda sorte de situações que mostram “um futuro cor de rosa” esse sentimento é forte e real, todavia se ele não for externado através de atos, fatos e muita luta essa fantasia não irá se realizar. 

Devemos deixar de ser otimistas? Nunca! O otimismo é uma força impulsionadora que nos impele para frente, porém, requer planejamento, desenvolvimento e objetivos bem definidos. O otimismo, portanto ajuda e conduz ao sucesso, pessoas sem ou com baixa carga de otimismo tendem a ficar depressivas uma vez que centram foco apenas na realidade e acabam prevendo um futuro mais sombrio do que a realidade. Otimismo demais também é prejudicial, uma vez que somente o pensamento positivo por si só não é capaz de reverter uma situação desfavorável. Imaginem uma empresa cujo produto não esteja sendo bem aceito pelos consumidores, de que adiantará todo o otimismo do mundo se não forem tomadas atitudes pragmáticas em relação ao problema.

A neurociência vem comprovando através de estudos e experiências que a espécie humana encontrou nesse viés positivo uma forma de seguir em frente fazendo a vida correr sob a visão de amanhã tudo será melhor. De fato se fomos olhar a passagem de ano seja na praia ou reunidos em família iremos comprovar essa grande verdade. As pessoas quando falam do “ano novo” se referem a ele com um marco de forte mudança (sempre para melhor) e as frases se assemelham muito mesmo em diversas partes do mundo: mais saúde, dinheiro, prosperidade, amor, fraternidade, etc. Certa vez na passagem de ano eu estava na praia de Copacabana e um amigo, faltando dois minutos para a virada de ano, me abraçou e começou a dizer essas frases. Dias depois eu o interpelei a respeito do acontecido e perguntei se alguma coisa tinha mudado em relação ao ano anterior. Ele respondeu não saber, segundo ele, precisaria pensar para fazer um balanço e depois de algum tempo me disse que acreditava que pouca coisa ou nada tinha mudado, dai eu disse: porque você continua então falando sempre as mesmas coisas? Prefiro acreditar, sentenciou ele.

Em marketing estudamos o comportamento humano a fim de obter “pistas” que nos ajudem a preparar estratégias e mensagens que vão de encontro aos seus desejos e necessidades das pessoas. Descobrimos nesses estudos muitas coisas, porém a meu ver a mais importante é de que o homem busca o prazer evitando a dor, nesse ponto acredito que o otimismo funciona como um anestésico. Quando enfrentamos alguma dificuldade ou dor imediatamente “vozes e pensamentos” internos começam intenso debate até o ponto de encontrarem uma visão, luz, caminho que seja satisfatório para dar alento àquela situação. Para a neurologia, o otimismo é a formação de imagens mentais no cérebro, nas mesmas regiões em que ficam as lembranças. "A projeção do futuro é, muitas vezes, feita em comparação com o passado" (Roberto Lent, médico, mestre e doutor em ciências). Esse tipo de atitude é incentivado de geração para geração. Somos criados e educados a fim de buscar sempre a melhor alternativa e jamais se render a dor ou aos problemas sempre acreditando que amanhã tudo será melhor. Essa fé no futuro pode ser catastrófica na medida em que se deixa de fazer as coisas em prol da esperança, no fundo é uma fuga da realidade que acaba sendo falseada trazendo consigo a alienação.

A filosofia vê no pessimismo um lado bom que é manter o individuo ancorado na realidade. Segundo o filosofo romeno Emil Cioran: são os otimistas que se suicidam. O pessimista não tem por que se suicidar, ele já sabe que o mundo não é bom. O otimista imagina um mundo perfeito e, quando acontece uma tragédia, ele não aguenta. Lucius Sêneca que foi tutor de Nero afirmava que era importante ter uma boa dose de pessimismo uma vez que somente assim poderíamos ajustar nossa visão aos reveses da vida. Ele acreditava que se não fosse criadas as expectativas em relação à vida então as frustrações não poderiam nos derrubar. Para ele o otimismo era um inimigo na medida em que as pessoas moldam o mundo segundo seus desejos e não como ele realmente é, porque nossa liberdade de mudar certas coisas é nula. Para exprimir esse pensamento Sêneca fez a seguinte comparação: imagine um cão atrelado a uma carroça. A corda é suficientemente longa para lhe dar alguma liberdade, mas não permite que ele vá para onde quiser. Com isso o cão não terá escolha a não ser seguir a carroça, porém é melhor ele seguir a carroça do que se debater contra algo que ele não poderá mudar. No caso dos seres humanos a vantagem é poder perceber o que pode ou não ser mudado e dentro dessa situação alterar as atitudes. Obviamente Sêneca viveu em um mundo cercado de ódio, intrigas, morte, a vida nesse contexto não prevê futuro, mas sim viver cada dia como se fosse o ultimo. A base da filosofia dele se deu nesse contexto, ele apregoava que as expectativas deviam ser desprovidas de grandes desejos e com isso a frustração seria evitada.

A frustação depende diretamente do tamanho da expectativa que se cria e nesse sentido quanto maior for o status da pessoa maior será o processo de frustração. Pessoas ricas tendem a ter mais frustração porque tem como contrapartida maiores expectativas. Essa sensação de poder seja ele econômico, politico, etc., conferem as pessoas uma visão turva de realidade fazendo que com que a fúria possa emergir com maior intensidade. Quantos de nós, pelo menos da velha guarda, ouvimos pessoas dizendo: você sabe com está falando? Acreditam que seu poder ou riqueza irá protegê-los de reveses e frustrações. Grande engano!

Para brindá-los com uma reflexão, coloco abaixo um pequeno texto de Sêneca: todos os homens querem viver felizes, mas, para descobrir o que torna a vida mais feliz, vai-se tentando, pois não é fácil alcançar a felicidade, uma vez que quanto mais a procuramos mais dela nos afastamos. Podemos no enganar no caminho, tomar a direção errada; quanto maior a pressa, maior à distância.
Devemos determinar, por isso, em primeiro lugar, o que desejamos e, em seguida, por onde podemos avançar mais rapidamente nesse sentido. Dessa forma, veremos ao longo do percurso, sendo este o adequado, o quanto nos adiantamos cada dia e o quanto nos aproximamos de nosso objetivo. No entanto, se perambularmos daqui para lá sem seguir outro guia senão os rumores e os chamados discordantes que nos levam a vários lugares, nossa curta vida se consumirá em erros, ainda que trabalhemos dia e noite para melhorar nosso espírito.
Devemos decidir, por conseguinte, para onde vamos nos dirigir e por onde, não sem a ajuda de algum homem sábio que haja explorado o caminho pelo qual avançamos, porque a situação aqui não é a mesma que em outras viagens; nestas há atalhos, e os habitantes a quem se pergunta o caminho não permitem que nos extraviemos. Quanto mais frequentado e mais conhecido que seja o trajeto, maior é o risco de ficar à deriva. Nada é mais importante, portanto, que não seguir como ovelhas o rebanho dos que nos precederam indo assim não aonde querem que se vá, senão aonde se deseja ir.
E, certamente, nada é pior do que nos acomodarmos ao clamor da maioria, convencidos de que o melhor é aquilo a que todos se submetem, considerar bons os exemplos numerosos e não viver racionalmente, mas sim por imitação.
Daí, a grande quantidade de pessoas que se precipitam umas sobre as outras. Como acontece em uma grande catástrofe coletiva, quando as pessoas são esmagadas, ninguém cai sem arrastar a outro, e os primeiros são a perdição dos que os seguem. Isso tu podes ver acontecer ao longo da vida; ninguém erra por si só, apenas repete o erro dos outros.
É prejudicial, portanto, apagar-se aos que estão à tua frente, ainda mais quando cada um prefere crer em lugar de julgar por si mesmo, deixando de emitir juízo próprio sobre a vida. Por isso, adota-se, quase sempre, a postura alheia. Assim, o equívoco, passando de mão em mão, acaba por nos prejudicar.
Morremos seguindo o exemplo dos demais. A saída é nos separarmos da massa e ficarmos a salvo. Mas agora as pessoas entram em conflito com a razão em defesa de sua própria desgraça. A mesma coisa acontece nas eleições. Aqueles que foram eleitos para o cargo de pretores são admirados pelos que os elegeram. O beneplácito popular é volúvel. Aprovamos algo que logo depois é condenado. Este é o resultado de toda decisão com base no parecer da maioria.
 


A vida por si só é uma dadiva ou uma desgraça. A visão que se tem dela define nossa trajetória. Sêneca na hora de sua morte disse: porque chorar por este momento já que toda vida é motivo de lágrimas. Eu penso e acredito que a vida é uma força incontrolável sem um proposito definido. Há milênios se debatem tais questões; eu acredito que vivemos por consequência de forças ainda não definidas e de propósitos obscuros. Nesse sentido creio que o otimismo é uma força capaz de estimular nossas ações, mas penso que uma boa dose de pessimismo é salutar a fim de nos preparar para os acontecimentos. A vida não é aquilo que se espera dela, mas ao contrario ela é arredia de lógica e proposito, porquanto nos resta através da razão supor que tudo tende e pode acontecer. Aceitar os fatos e os reveses é um ultima instância a melhor estratégia de seguir vivendo.

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