Ninguém sabe, esta é a verdade. Cada qual tem uma resposta diferente, pois as pessoas têm valores próprios, acreditam em modelos particulares do que seria um bom gerente. Já ouvi gente falando que o bom gerente seria aquele tipo mais austero e disciplinador. Outros idealizam o bom gerente como uma pessoa mais suave “light”, bem humorada, que se pareça com os demais membros da equipe do que com alguém que esteja lá para comandar. Os exemplos são muitos, é impossível explorar todos aqui.

Se fossemos apenas relacionar as características utilizadas para definir um bom gerente, a lista seria imensa: decente, firme, inteligente, honesto, técnico, comprometido, serio... etc. Com tantos e diferentes atributos seria então impossível definir o que, de fato, possa vir a ser um bom gerente? Não concordo! Sempre podemos definir, não importa o que seja. Neste caso, a dificuldade é maior porque o Brasil é territorialmente imenso e sofre influências culturais e econômicas diversas de suas múltiplas regiões. Não fosse isto, por si só, um problema, ainda contamos com a visão pessoal de cada empresário (é ele que qualifica e contrata o seu gerente, não é mesmo?). De volta à pergunta, minha resposta é SIM, mas com ressalvas e posso citar três pontos que em minha visão e experiência formam a espinha dorsal de um bom gerente. São elas: Competência - Justiça – Coragem.

Eu gostaria de explanar uma situação bastante corriqueira que costumo ver em minhas andanças por esse mundo empresarial e que acredito seja um problema bastante comum.

A qualidade de nossos gerentes é no mínimo sofrível. Por que isso ocorre? Porque o critério de escolha ele se dá mais no campo pessoal do que o profissional. As pessoas são guindadas a esses postos porque com o passar dos anos os “ficantes” (pessoas que foram ficando na empresa) acabaram conquistando a confiança de seus superiores. É sempre assim? Não! Porém, poucos chegam lá por pura escolha técnica.

No Brasil a cultura das relações humanas é muito forte. Quantos de nós conhecemos uma pessoa e meia hora depois fica-nos a impressão que a conhecemos desde “criancinhas”. Por que isso acontece? Exatamente por conta da “impressão”! O brasileiro é muito aberto em seus relacionamentos, essa abertura e alegria se tornou um ícone mundial. Pergunte a qualquer outro povo sobre a alegria do brasileiro e eles com certeza darão crédito a essa imagem.

Nas empresas não é diferente! As escolhas se dão por conta de “impressões”, poucos ou quase ninguém se dá ao trabalho de certificar em profundidade as características necessárias ao desempenho de uma boa gerência. Normalmente funciona assim: fulano é gente boa; gosto do jeito do fulano; fulano pensa como eu; fulano me parece leal; fulano é educado; e por ai vai...

Há tempos atrás presenciei um determinado “ficante” dizer em alto e bom tom que iria se mudar para outro país, isso foi dito na frente de uns dez gerentes juntamente com o dono da empresa, verdade seja dita isso foi durante um churrasco regado a muita cerveja. Não tardou 15 dias o tal “fulano” foi promovido a gerente. Pergunta que não quer calar! O fulano quer ir embora e acaba sendo promovido, por quê? Em primeiro lugar nunca vi nada de especial nele, (eu acompanho essa empresa, há mais de oito anos), é uma pessoa grosseira, não sabe se posicionar, não é o “suprassumo” do conhecimento, enfim se dependesse de mim nunca seria promovido. Intrigado, interpelei alguns gerentes que participaram da escolha e recebi a seguinte resposta: ele esta conosco há muito tempo, gostamos e confiamos nele. Para não cansar o leitor vou resumir dessa forma: seis meses depois da promoção o departamento continua a mesma porcaria de sempre. O fulano em nada contribuiu para que fossem realizadas as mudanças necessárias. Pelas conversas com outros amigos de profissão essa situação é mais comum do que deveria ser.

Perdoem-me a franqueza, mas sinto que vivo numa época que tudo é passageiro ou descartável. Quando criança ouvia dizer que nos USA ninguém consertava nada, tudo era jogado fora, porque o valor do conserto era muito próximo ao do produto novo; confesso que ficava encantado com essa situação e por que não dizer sentia inveja; enquanto isso no Brasil os produtos eram arrumados, consertados, “acochambrados”, enfim, fazia-se todo tipo de gambiarra para funcionarem e assim seguia a vida. Porém no campo pessoal a coisa era bem diferente. As pessoas tinham mais respeito uma pelas outras, o convívio era um prazer mantido com grande importância. Nessa época uma pessoa para se tornar gerente penava dezenas de anos, ou seja, a experiência acumulada ao longo do tempo era à base de avaliação e posterior promoção. Não estou aqui como um velho saudosista querendo impor “verdades do passado”, ao contrário, amo a modernidade; gosto de afirmar que sinto prazer ao comparar as coisas e as situações; outrora as pessoas sentiam nas empresas uma extensão de sua casa, o amor pelo trabalho e consequente orgulho moviam e moldavam sua conduta profissional, tanto quanto dos empresários que sonhavam e trabalhavam para a solidez dessas relações.

Hoje como as coisas funcionam? Há pouco mais de dois anos estive presente em uma reunião num grande banco, depois de severa espera, fomos atendidos por um casal de jovens que depois de apresentarem passaram mecanicamente a me dar seus cartões de visita. Num dos cartões estava escrito: vice-presidente de assunto xxxxx e no outro estava escrito diretor da área de negócios e coisa e tal... Inconformado, perguntei as respectivas idades numa brecha que consegui ao longo da conversa, para meu espanto era algo parecido com isso: 23 e 27 anos. Porque fiquei inconformado? Porque sei que essas pessoas ainda não estavam maduras o suficiente para tratar de assuntos delicados. A experiência é fundamental durante uma rodada de negócios. Essas “crianças” decoraram a cartilha que lhes foi passada e não podem e nem conseguem fugir desse trilho. Enfim a reunião deu em absolutamente nada.

Nesse sentido vivo inconformado com a falta de qualidade da maioria dos gerentes que me deparo. Como disse anteriormente, tudo me parece descartável, vivemos apenas do presente, ninguém se preocupa em solidificar nada, qualidade então nem pensar. Vivemos correndo atrás de resultados e por eles julgados, caso não sejam conseguidos trocam-se as pessoas como quem toma uma lata de refrigerante e joga o invólucro fora. Não estamos mais criando laços duradouros, apenas dividimos mesmos espaços, sem sentido, nem sentimento. Muitos dirão que o mundo mudou e as coisas hoje são dessa forma e, portanto temos que nos adaptar. Bobagem! Quanto maior for à massificação maior também será a necessidade individual de reconhecimento, ninguém em sã consciência quer ser tratado como número. As pessoas querem tratamento diferenciado, a opressão das grandes cidades acelera cada vez mais essa necessidade. Somos seres sociais por essência, viver em sociedade é sentir-se fazendo parte de alguma coisa, o trabalho em equipe e a construção dos valores dentro desse grupo gera os verdadeiros resultados e a satisfação de dar sentido as nossas vidas, sem isso continuaremos convivendo com essa horda de ‘BURROCRATAS’ de plantão que agem e reagem robotizados seguindo cartilhas.

Como sempre, gosto de afirmar que nestes textos não me proponho a criar verdades, nem tampouco desenhar um tratado sobre conduta empresarial. A ideia é simplesmente levar o leitor a refletir sobre um ângulo diferente, para entretê-lo e fazê-lo meditar. Só isto, nada mais!

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