Todos, em algum momento, já ouviram alguém dizer: eu sou profissional! Por curiosidade eu sempre fico atento ao gestual da pessoa; descobri que ,quando o fazem, estufam o peito para dizê-lo. Parece que uma onda de orgulho atinge a pessoa.

Afinal de contas o que é ser profissional? Segundo o dicionário (Aurélio) “profissional é a pessoa que faz uma coisa por ofício”. A palavra profissional vem do latim “professio” – ato de declarar, de tornar público, de ensinar.

Se sairmos por ai, perguntando às pessoas o que essa palavra “profissional” significa, podem ter certeza que teremos uma imensa gama de respostas. Mas de alguma maneira a maioria acabaria direcionado a resposta para um ponto em comum; profissional é aquela pessoa que faz um determinado trabalho com qualidade e conhecimento de causa.

Portanto, baseado no dicionário mais o significado da palavra, entendo, pelo menos, na minha concepção, é claro, que: Profissional é aquele que, em troca de pagamento ou não, exerce uma atividade da qual oferece como contrapartida alto conhecimento e qualidade. É isso? É isso mesmo! Ou não?

De acordo com minha conclusão, seja ela acertada ou não, posso afirmar que: “todas as pessoas que trabalham são profissionais, ou pelo menos, deveriam ser”. Será isso uma verdade? A mim parece que não.

Se eu pensar no número de vezes que me senti tranquilo e satisfeito com o serviço prestado, chegarei à conclusão que foram bem poucas. Ai fica a pergunta, por quê?

A maioria das pessoas acredita que elas conseguem se despir de todas as características, razões e sentimentos humanos: vaidade, soberba, crenças, raiva, cultura, ganância, orgulho, ambição, tolerância... A lista é muito grande para ser colocada aqui, mas, as pessoas são a soma de todas as características que possuem o tempo todo. Não existe essa bobagem de separá-las. Ouço muitas pessoas dizerem que quando saem de casa deixam para trás tudo e se vestem de profissionais para atuarem no trabalho. Outros afirmam que quando saem do trabalho deixam as coisas na empresa e seguem para seus lares despidos dessa carga. Ledo engano! Somos um caldeirão de razões e emoções fervilhando 24 horas por dia, somos por essência uma grande sopa, que a cada instante é acrescentado novo item.  Ser profissional nessa condição, tal como se propala por ai, não existe!

Outro aspecto intrigante é a análise e definição pessoal que cada um idealiza sobre o que vem a ser um “bom profissional”. É normal pré-conceber o perfil ideal e isso passa necessariamente por um processo de comparação, ou seja, visualizamos no outro nossa própria imagem. Se algo não estiver dentro desse contexto o outro já começa a perder pontos, nesse sentido somos ferozes no julgamento, as margens de tolerância são baixíssimas. Se olharmos para nossas mãos constatamos que não exatamente iguais, mas por se tratar de nós mesmos aceitaremos esse fato com naturalidade. Então por que não aceitar isso nas pessoas? Talvez seja a “soberba” agindo, dirigindo nosso pensamento no qual já se estabelece a verdade única. É fato que cada pessoa nasce dentro de um contexto, uma cultura, uma crença, um universo único; os anos trilhados por cada qual eleva e amplia a visão sobre as situações encontradas pela vida, o ganho ou a perda dessa visão estará centrado no esforço dispendido para “entender o outro”, na verdade isso nos faz mais experientes, sábios e maduros. Talvez nesse sentido seja importante para que um “bom profissional” seja percebido, como tal ele deverá nutrir uma serie de valores adicionais além dos conhecimentos técnicos.

São em horas como essa de profunda divagação que a imagem de meu pai vem à tona. Ele era uma pessoa que nutria os valores como se fosse religião. Dizia ele: “como não podemos desassociar a pessoa do profissional então devemos engrandecer os dois ao mesmo tempo”. Como funcionava isso?

Segundo ele, os valores éticos, morais deveriam estar tão presentes na conduta que resplandeceriam por si só. Ele acreditava que os códigos de conduta dos vários meios sociais eram determinantes para o convívio e quem não tivesse a capacidade de enxergá-los e se posicionar, ficaria a margem do caminho. Certa vez perguntei a meu pai que valores eram fundamentais na composição tanto do caráter quanto da atitude profissional. Essa foi sua resposta:

- Ser determinado, saber se posicionar avaliando as prioridades;
- Ser honesto para com os outros e mais ainda para consigo próprio de modo a não trair suas convicções;
- Ser competente no que faz, desenvolvendo em ato contínuo suas aptidões, conhecimentos e visão sobre aquilo que importa;
- Ser flexível para com a vida e as pessoas, entender que cada coisa é única e que nenhuma verdade resiste ao tempo;
- Ser íntegro e nunca trair seus princípios, a fim de que não perca a identidade, pois é essa condição que cria sua reputação é dela e por ela que será apreciado ou não, ela é sua imagem social;
- Ser bem humorado, leve a vida com um sorriso no rosto, pois ele abrirá mais portas que todas as chaves que vier a ter;
- Ser focado, concentre-se ao máximo naquilo que estiver fazendo não se deixe distrair, a qualidade de seu trabalho será retribuída, em igual proporção, na satisfação de executá-lo;
- Por fim ame tudo aquilo que se empenhar a fazer. A vida não é composta de caixas estanques, ela é um todo, não se divide e não se separa. Cada momento está ligado a sua vida, por isso ela é escrita de momentos. Cada instante desperdiçado e um pouco de morte sentida.
Levando em conta “as bobagens que meu pai disse”, faço novamente a pergunta! Você é profissional? 

Ah! Quantas indagações surgem de uma mera pergunta. Eu acredito que com as mudanças globais seja no campo da economia, comunicação e integração, os efeitos imediatos serão o surgimento de parâmetros mais severos quanto aos padrões éticos, uma vez que será, a meu ver, a moeda de relacionamentos entre as nações, empresas e pessoas. Por ética devemos entender todo o conjunto de fatores que contribuem na formação do caráter. Quem sabe meu velho pai não estivesse afinal de contas falando tanta bobagem assim...

Como sempre, gosto de afirmar que nestes textos não me proponho a criar verdades, nem tampouco desenhar um tratado sobre conduta empresarial. A ideia é simplesmente levar o leitor a refletir sobre um ângulo diferente, para entretê-lo e fazê-lo meditar. Só isto, nada mais!

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