Quem discrimina as pessoas por causa da idade, em geral justifica o seu procedimento com o argumento de que as pessoas mais velhas vivem no passado. O passado, neste caso, é sinônimo de atraso. “Precisamos renovar nossos quadros, contratar jovens, trazer novos ares, ideias novas”. Frases como estas são comuns em todos os lugares e a maioria das pessoas, efetivamente, pensa nesse sentido. Não podemos negar os fatos! A sociedade é preconceituosa, as pessoas mais velhas são discriminadas.
É possível mudar isto?
Acredito que não conseguiremos tão cedo. A sociedade muda lentamente. Em 1982 Quando eu fiz 37 anos de idade eu era o funcionário mais velho da Moore, uma multinacional canadense com cinco fábricas e cerca de mil funcionários mensalistas, a maioria deles de nível médio para cima. A política da empresa, importada da matriz, era avançada e condenava o preconceito, orientava os dirigentes a protegerem os negros, os índios, as mulheres e os idosos. A nossa cultura prevaleceu. A orientação ficou apenas no papel. Curiosamente e contraditoriamente, todas as pessoas da empresa se consideravam esclarecidas e não preconceituosas. No entanto, eu era o mais velho, havia apenas uma mulher na chefia, mas subalterna do diretor de recursos humanos. Tínhamos cerca de setecentos vendedores, nenhum deles era negro ou mulato.
O preconceito e a discriminação emergem inconscientemente. As pessoas não tem noção de que estão discriminando. Buscam e encontram outras explicações para justificarem suas atitudes. Somente encaramos os fatos quando eles são contundentes e as denúncias são reconhecidas. Estamos condicionados a pensar de modo errado. É um condicionamento de muitos séculos. Na igreja católica, somente o homem pode ser sacerdote e a maioria deles é de descendência europeia. Na maçonaria, a mulher não tem vez e o mesmo ocorre na maioria dos clubes e associações civis.
A explicação para a discriminação da idade, palpite meu, é porque achamos que os velhos vivem no passado, que eles são fracos e ainda impertinentes, pensam que sabem tudo, querem mandar na gente. Eu também pensei assim. Não era radical, mas de algum modo segui o cortejo cultural, que é preconceituoso e discrimina.
Hoje, no começo da terceira idade, vejo que sou a mesma pessoa que era antes. Mudei quase nada. Adquiri conhecimentos e experiências, mas não mudei minha personalidade nem o modo de ver o mundo. Sempre fui um rebelde, continuo rebelde. Sempre fui criativo, continuo criando. Era ousado, ainda ouso. Tenho amigos do tempo da minha juventude e reparo que eles também não mudaram. Os espertos continuam espertos. Os que eram tímidos permanecem tímidos, os que eram tolos ainda são tolos. A diferença é que a juventude encobre os defeitos. Jovens bonitos e tolos não parecem tão tolos quando o são. Moça bonita e atraente é disputada mesmo se for birrenta. O marido irá reparar nos defeitos quando ela engordar. É assim que o mundo vê os jovens. Juventude é sinônimo de força, beleza, ousadia e criatividade. A juventude é um símbolo. Um símbolo positivo. Basta ser jovem para ser identificado com as virtudes simbolizadas. E é aqui que a gente entra em fria. Nem toda pessoa com idade de jovem é realmente jovem, apenas aparenta ser. Lá dentro poderá ser medrosa, cautelosa, ciumenta, conservadora.

A velhice é também um símbolo. Na nossa cultura, negativo. Pessoas velhas com mente jovens, criativas e ousadas, são postas no mesmo baú em que estão todos os velhos ranzinzas. Para separamos as pessoas, os velhos e os moços dos símbolos que os representam é preciso que tenhamos algumas qualidades especiais. Veja o que nos diz o grande poeta português Fernando Pessoa. Ele afirma que o entendimento dos símbolos e dos rituais exige que o intérprete possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles:
· Simpatia,
· Intuição,
· Inteligência,
· Compreensão,
· Graça.
Depreende-se que primeiro é preciso simpatizar com o símbolo para interpretá-lo. Ou seja, a simpatia aproxima o intérprete da coisa a ser interpretada. A intuição funciona de modo a sentirmos a coisa mesmo sem tê-la visto sem dela termos tido um conhecimento prévio. A inteligência analisa, decompõe, relaciona de novo sob novo prisma, enquanto que a compreensão é dada pelo conhecimento das outras matérias e das coisas que rodeiam o símbolo a ser interpretado. E por fim, a ajuda da graça, que também pode ser interpretada por Conhecimento, Ciência, Natureza, Deus, Oxalá, Tupã, Alá, Jeová.

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