Em 1989, um amigo meu saiu na capa de uma revista, uma foto espetacular! Elogiei o fato e a foto, pois ele merecia. Era criativo, ousado, tinha lançado inúmeros produtos, realizado bons negócios. Ele riu e disse: tive que pagar. Eu mesmo cuidei da produção da foto. Ficou boa, né! Comecei a prestar mais atenção nas publicações sobre donos de empresas e executivos.
Durante trinta anos, precisei conhecer e acompanhar as empresas, pois, como fornecedor e negociador, preciso analisar os balanços das empresas, seus recursos, sua situação no mercado, etc. Tempo suficiente para que vários executivos, donos e/ou diretores, fossem capas de revistas e ganhassem elogios nas páginas internas de veículos de grande circulação. Muitos foram premiados em virtude da excelência de seus feitos e suas gestões, mas é lamentável ter que lhes dizer que uma coisa não bate com a outra. É contraditório.
O sujeito é distinguido e premiado por sua visão de negócios, mas a sua empresa vai mal. Algum tempos depois, a empresa desanda e às vezes até entra em concordada e ninguém mais toca no assunto. Há casos de sujeitos que tocaram mal diferentes empresas e foram sucessivamente premiados.
O exemplo do meu amigo foi uma exceção. Ele era vaidoso e não lhe bastava se sair bem nos negócios, queria ser destacado pela mídia e arranjou um jeito de satisfazer o ego. A maioria das revistas não vendem suas capas, nem matérias. Em geral, os jornalistas, redatores e editores, são ciosos de suas responsabilidades e publicações, tem convicções, assumem posições. Quem trabalha em publicidade, sabe disto. Então, por que acontece?
Acontece porque nenhum dono de empresa, diretor ou gerente irá comentar e tornar público que acabou de fazer um mau negócio, que seu produto tem problemas, que está sem capital de giro, que a empresa está em situação difícil. Na pior das situações, ele encontrará estratégias e palavras para convencer você e o público do contrário. Não poderia ser diferente. Por esta razão, não acredite no que é publicado sobre empresas e negócios. Nenhuma pesquisa sobre negócios, onde o respondente é o próprio dono ou gerente do negócio, será isenta. Jamais será.
Considere a seção de economia e de negócios um entretenimento. Seja prudente. Outra razão é que informação é uma coisa e notícia é outra. Os jornalistas não vivem de informação, mas de notícias. Jornalismo não combina com poesia e vice-versa, não combina com transparência, mas com reflexão de espelho. Não combina com honestidade, mas com ilusão. O Rubens Alves, jornalista e psicanalista, até assume que não lê jornais, só passa os olhos pelas notícias: “preciso ter uma ideia não do que está acontecendo, mas do que é notícia. O que está acontecendo e o que está sendo notícia não é a mesma coisa. Notícia vem de notar e o “notar” varia de corpo para corpo. Urubu não nota madressilva, Beija-flor não nota carniça. Jornal de beija-flor é diferente de jornal de urubu”.
Também não acredite em informações comerciais, não importa a fonte. Quando uma empresa quer vender para um credor meu, e ele está em dificuldades, eu dou boas informações dele, pois se ele tiver crédito eu terei chances de receber o que ele me deve. Quando trabalhei na SERASA, todo ano cotejávamos as nossas análises e recomendações. Pegávamos, uma a uma, as empresas que não haviam honrado seus débitos e as que haviam quebrado para examinar seus processos (os balanços e as informações comerciais) e o que havíamos escrito sobre elas para os bancos e empresas clientes. As informações comerciais eram boas, os balanços ruins, mas como a nossa análise era apoiada no histórico dos balanços e não nas informações de terceiros, nunca erramos.

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